PRAZO ALARGADO – CFP: Cadernos de Literatura Comparada #41

ILCML

A relação entre literatura e cinema é múltipla e complexa, compreendendo a ambivalência, a confrontação e o vínculo. Desde o seu aparecimento, o cinema suscitou em autores tanto fascínio e entusiasmo quanto desconfiança e repúdio. Se alguns escritores rejeitaram radicalmente este novo dispositivo, vendo nele antes uma curiosidade de feira e um entretenimento popular do que uma nova arte (Franz Kafka, G.K. Chesterton, Fernando Pessoa, Robert Musil), outros pretenderam criar linguagens literárias inéditas que respondessem ao surgimento do cinematógrafo e às suas potencialidades imagéticas (Guillaume Apollinaire, Blaise Cendrars, Fernand Léger, Jean Cocteau). Por sua vez, ao longo do tempo, o cinema ora incorporou segmentos verbais e figuras tipicamente literárias, procurando aproximar-se quer da narrativa quer da poesia (S. M. Eisenstein, D. W. Griffith, Man Ray, Pier Paolo Pasolini), ora pretendeu autonomizar-se, reclamando uma expressão própria, especificamente ocular e visual (Dziga Vertov, Jean Rouch). Certo é que nenhuma das técnicas ficou incólume e cada qual integrou sentidos da outra ou, confrontando-se com ela, procurou pensar-se e transfigurar-se.

Na bibliografia especializada dos estudos intermediais incidindo sobre as relações entre as duas práticas, predominam claramente os trabalhos sobre a adaptação. Compreende-se a insistência no tema. A adaptação não só torna imediatamente perceptível um certo tipo de ligação entre as duas práticas, como permite ainda questionar hierarquias, cânones e processos de hibridização. Porém, se a adaptação é a mais evidente forma de imiscuição da literatura no cinema, nem por isso é a única. Acresce ainda que o estudo da adaptação não permite compreender de que modo a literatura também se metamorfoseou no confronto com a arte cinematográfica.

Desde o surgimento do cinema, foram apresentadas várias teses sobre as aproximações temáticas, formais ou mesmo práticas entre os dois médiuns – sendo Jean Epstein um dos autores pioneiros no tratamento destas matérias. De todas as contribuições fica claro que a relação entre literatura e cinema não se esgota no aproveitamento de enredos ou personagens e na sua transposição. Ela dá-se através de muitos outros mecanismos: do segmento verbal tornado imagem (intertítulos) e da imagem tornada segmento verbal (ekphrasis); da mútua citação; da mimetização do arranjo formal de uma obra (montagem e sequencialidade); da compreensão de uma certa afinidade entre o carácter visual da palavra escrita e do fotograma ou, por outras palavras, a sua dimensão hieroglífica (Tom Conley, M.-C. Ropars Wuilleumier, Fernando Guerreiro), entre outros.

Nesse sentido, convidam-se investigadores das áreas dos estudos literários e do cinema a submeterem trabalhos que se inscrevam nesta perspectiva e que procurem explicitar as várias afinidades e tensões entre as duas práticas artísticas, analisando-as em especial a partir dos seguintes eixos:

+ Reflexão crítica sobre a adaptação
+ Relação entre poesia e cinema
+ Casos e modos de citação
+ Poética dos intertítulos
+ Desconstrução e reinvenção de géneros
+ Cinema e narrativa
+ Argumento

Os organizadores do no. 41 dos Cadernos de Literatura Comparada, publicação periódica do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa:

Elisabete Marques (ILCML – Universidade do Porto)
Rita Novas Miranda (ILCML – Universidade do Porto)
Sofia de Sousa Silva (ILCML – Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Todos os artigos devem ser enviados, por email, para cadernos.peerreview@gmail.comaté 31 de julho de 2019.

(Caso o artigo não esteja de acordo com as Normas de edição da revista, os organizadores do volume poderão recusar o artigo, não o submetendo ao processo de blind peer review)